Eu, não era
sua amiga
Ela, não era minha amiga
Cruzavamo-nos no andar das nossas vidas
Adivinhava-lhe o olhar vazio, disfarçado no sorriso franco com que me dizia, bom dia, ou respondia a um boa tarde, pelo tanto que nos habituamos a passar uma pela outra
Num dia, não sabia nada dela
E no outro, toda a gente parecia saber tudo...
mas nada fizeram
Comentavam, agora, sem pudor
Diziam
- Que era louca
- Que andava por casa como na rua, em roupas justas, apertadas com conceitos de bem parecer
- Que um dia se passou de vez e que saiu à rua como quem vai para o duche
- Que as gentes da terra, de olhos arregalados, a olhavam enquanto ela passava
Terá sorrido, para elas, como me sorria a mim?
Com olhos que não vêem mas sentem?
Alguém que eu conheço, e a conhecia, sabia do inferno, e não teve coragem de intervir
diz que ela:
- Vivia à espera de tudo e nada
- Esperava pelo sorriso do Outono – quando “ele” se ausentava por algum tampo
- Esperava pelo anoitecer e anoitecia à espera – de uma alma libertadora (que não foi ela, e chora, enquanto me diz, ela…)
- Atava a vida com nós de cetim
- Fartou-se de esperar
E que lhe terá deixado escrito que:
- Naquele dia sairia vestida só de esperança
- Não procuraria ruas ou estradas conhecidas
- Não sabia onde iria parar
- Mas sabia que não queria esperar mais
E não esperou
Três dias depois encontraram o seu corpo numa curva do rio
A mão direita fechada
Segurava uma fita de cetim branco
Sem nós.
2007-10-25 violência, obsessão, domínio – até quando?
Por, infelizmente, continuar tão actual hoje, como em 2007, resolvi trazer
***
2019-10-01 Ela, não era minha amiga
Cruzavamo-nos no andar das nossas vidas
Adivinhava-lhe o olhar vazio, disfarçado no sorriso franco com que me dizia, bom dia, ou respondia a um boa tarde, pelo tanto que nos habituamos a passar uma pela outra
Num dia, não sabia nada dela
E no outro, toda a gente parecia saber tudo...
mas nada fizeram
Comentavam, agora, sem pudor
Diziam
- Que era louca
- Que andava por casa como na rua, em roupas justas, apertadas com conceitos de bem parecer
- Que um dia se passou de vez e que saiu à rua como quem vai para o duche
- Que as gentes da terra, de olhos arregalados, a olhavam enquanto ela passava
Terá sorrido, para elas, como me sorria a mim?
Com olhos que não vêem mas sentem?
Alguém que eu conheço, e a conhecia, sabia do inferno, e não teve coragem de intervir
diz que ela:
- Vivia à espera de tudo e nada
- Esperava pelo sorriso do Outono – quando “ele” se ausentava por algum tampo
- Esperava pelo anoitecer e anoitecia à espera – de uma alma libertadora (que não foi ela, e chora, enquanto me diz, ela…)
- Atava a vida com nós de cetim
- Fartou-se de esperar
E que lhe terá deixado escrito que:
- Naquele dia sairia vestida só de esperança
- Não procuraria ruas ou estradas conhecidas
- Não sabia onde iria parar
- Mas sabia que não queria esperar mais
E não esperou
Três dias depois encontraram o seu corpo numa curva do rio
A mão direita fechada
Segurava uma fita de cetim branco
Sem nós.
2007-10-25 violência, obsessão, domínio – até quando?
Por, infelizmente, continuar tão actual hoje, como em 2007, resolvi trazer
***
nn(in)metamorphosis
ResponderEliminarDói...
😘
Boa noite, Noname
ResponderEliminarUm texto que ti 3 vezes e me comovi, porque tenho um coração de manteiga. Adoro os seus textos tão reais, onde tanta gente se revê. O quotidiano de uma vida!
Já não ouvia esta música a algum tempo. Adorei
Beijos. Boa noite
A vida é cheia de "desafios`". É sempre bom acreditar que alguém nos pode ajudar... e pode... contudo, apenas para o caso de não poder... se alguém deve tentar... é a própria pessoa... a sociedade vê, sente até, mas pouco se envolve... parece-me e mesmo, muitas das vezes nem "vê" porque talvez se acabe por estar demasiado centrados em nós mesmos ou no que nos está imediatamente próximo...
ResponderEliminarTexto maravilhoso, dona no.
ResponderEliminarDestes, quero muitos.