Até já

Ontem à tarde, fui ver o mar de perto, assim como  uma despedida, um até daqui a alguns meses, quando o sol voltar a ser companheiro e o vento seja suão. Não havia muita gente, uns locais aqui e além, coloriam a paisagem acinzentada. Desci ao areal e sentei-me ali, mais ou menos a meio entre o desfazer da onda e a murada que enfeita a calçada mais do que impede o mar de avançar. Como quase sempre, ao fim de algum tempo, saio de mim, levito nos meus pensamentos, e cruzo o mar com um saltinho de criança, e é África em mim e eu em África numa sincronia, numa afinidade que, até a mim, é difícil entender. Não vivi lá tantos anos que, a mim, justifique tal ligação, mas foram felizes e muito intensos, e estávamos, ainda, todos juntos. De qualquer maneira é para lá que me leva o mar e não para a terra onde nasci, embora a adore e queira que, seja lá, na Foz, que libertem as minhas cinzas. Mas, é de África que sinto os cheiros, que ouço os sons. Voltada a mim, sei que tenho no rosto um sorriso aparvalhado, um olhar mar, um corpo papaia. Respiro fundo, primeiro devagarinho e depois em toda a plenitude e regresso revigorada, sorriso de gaiata, olhar curioso, corpo de saudade.

Na verdade, eu também visito o mar no Inverno, quando as ondas não me permitem tranquilidade e o vento parece querer tornar-me em papagaio louco pelos céus.

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2019-10-17

nn(in)metamorphosis