Hoje, o dia nasceu
cinzento e abafado. Aqui e ali, um raio de sol fura a densidade, e vem lembrar
que é Verão.
Na varanda, puxo a cadeirinha de leitura, no propósito de ler mais
algumas páginas do “Esta é a tua vida, Harriet Chance” de Jonathan Evison.
Ainda não me decidi se esta leitura vale o esforço dos meus olhos. Uma história de vida, uma mulher comum, uma vida
macilenta, adjectivos por demais conhecidos por um batalhão
de outras Harriets, por esse mundo fora.
Um raio de
sol mais atrevido, incide em cheio na página de papel reciclado e fere-me os
olhos, sem óculos, desvio o olhar, que acaba preso no infinito que parece tão
perto, acabando o livro a descansar no regaço, e o pensamento a deambular pelo
já lido.
A monotonia, o desencanto pelo que, um dia, se sonhou poder viver, em
contraste com a realidade, torna a vida macilenta, num rolar a baixa
velocidade, que de tão baixa, permite que se sinta cada sílaba, como uma prensa
que numa toada repetitiva – ma ci len ta - te aperta, te
(de)forma, e já nem contestas, apenas aceitas como sendo o normal e, a tão
desejada felicidade seja isso que tens: Um emprego que nem anda, nem desanda, casa própria, um futuro assegurado pelas poupanças, dois filhos criados, um marido que quase já não te olha.
Não sei,
ainda, se Harriet irá espernear, dizer que quer mais, que merece mais, mas
tenho as minhas dúvidas, atingiu já uma idade, onde as veleidades se podem
pagar caras. Especialmente se se vive em função de outro, e do medo do que os
outros possam dizer.
Até agora, o que li, só reforçou o que penso:
Viver e ser
feliz, é mais fácil, enquanto uno.
Difícil é
mesclar:
- O que eu
quero, com o que tu queres.
- O que eu posso, com o que tu podes.
- O que eu acredito, com o que tu acreditas.
- O que eu gosto, com o que tu gostas – para além de gostarmos um do outro.
E, não menos, se não o mais importante
- O que eu espero de ti, com o que tu esperas de mim
E, é aqui, que a sinceridade fica muito mais bonita no papel.
- O que eu posso, com o que tu podes.
- O que eu acredito, com o que tu acreditas.
- O que eu gosto, com o que tu gostas – para além de gostarmos um do outro.
E, não menos, se não o mais importante
- O que eu espero de ti, com o que tu esperas de mim
E, é aqui, que a sinceridade fica muito mais bonita no papel.
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2019-06-29