Menu Suspenso

23/05/2022

Acorda

 
 


A manhã surgiu fosca
como se um véu tapasse o sol
que queria quente
 
 Queria a luz que a aquecia
 e a energia  que transparecia dos raios empoeirados
que os sonhos lhe deixaram
 
 Aquele era o tempo dos mundos parados…
 
E também ela parada
só a custo entendia que estava viva
na fronteira do vazio da alma
 
 Rolou o cigarro e expirou o fumo
como se quisesse deitar fora 
toda a mágoa que lhe apertava o peito
 
Queria voltar a adormecer...


 

***

2022-05-23
Acorda
nn-metamorphosis


Sem eira nem beira

 

 «Sem eira nem beira»

é um dito popular antigo que encerra um pensamento moral. Deste adágio ressalta a eira, localizada nas proximidades dos lugares do mundo rural, que era e ainda é um local ao ar livre, de terra batida ou lajeada. Aqui se estendiam para secar os cereais (trigo, milho, centeio, etc.) e legumes, a fim de serem malhados, debulhados e limpos no mês de Agosto, ou seja, no «tempo da eira». A eirada correspondia a uma porção de cereais que se debulhavam por uma só vez na eira, para depois serem aproveitados para o consumo. Era sinal de alguma prosperidade. Quem era pobre não tinha eira, nem um pedaço dela, nem mesmo sua beira. Daqui resultou a rima popular, em jeito de menosprezo: miserável é aquele que vive «sem eira nem beira», ou «sem eira nem beira, nem pé (ramo) de figueira». Ou, ainda, em tom satírico e jocoso para com um vizinho: «"Valha-te a eira má", que não tenhas pão na eira, e que morras de fome»!

 

O adágio também podia ter outra explicação popular, referente aos beirais dos telhados das antigas habitações e afins. Dizia-se que as famílias com menos posses tinham uma telha (eira), os remediados tinham duas (beira) camadas de telhas. E os mais abastados tinham na cobertura das casas três camadas de telha, eira, beira e tribeira, respectivamente, de cima para baixo. Daí o dito popular «se o sujeito não tem eira, nem beira, quer dizer que ele não tem recursos, é pobre».

 

Esta tipologia dos beirados foi levada pelos portugueses, no século XIX, senão antes, para o Brasil.

 

Em Portugal e no Brasil, ainda podemos observar algumas casas, [ver, por exemplo, as imagens de um edifício setecentista, sito na Sobreda (concelho de Almada); da colecção de Alexandre Flores], que conservam os dois beirados, próximos dos telhados. Outras, na maioria, só com um beirado. As que tinham os dois significavam que a família que residia naquela casa tinha eira (poder) e beira (posses). Nas casas só com um beirado então só tinham eira e não tinha beira. E nas casas que não tivessem nada não tinham «nem eira nem beira».

 

'Fonte

Estudo e recolha do historiador e bibliotecário-arquivista Alexandre M. Flores, publicado em 10/01/2020 na sua própria página de Facebook. Manteve-se a norma ortográfica do original, a qual é anterior ao Acordo Ortográfico de 1990.'

 ***


20/05/2022

Um jogo de cabra cega

   


A vida passa
E ensina-nos a diferença
 
da noite e do dia
da fraqueza e da força
do amargo e do doce
da mágoa e da alegria
 
da renúncia e da persistência
 
para querer e fazer seu
com desembaraço e desapego
o gostar e o amar
num amor que sendo cego
 
vê pr’ além da existência

 

 

***

2022-05-20 
Um jogo de cabra cega
nn-metamorphosis


18/05/2022

Hoje





Hoje

saí
não estou cá
 
Fui lá, sem me ausentar
 
Sentei-me no areal deserto
onde as palavras não apetecem
e o silêncio ecoa
onde cerrados os olhos
a luz se apaga e o escuro se impõe
 
Hoje

saí
não estou cá
 
Fui lá, sem me ausentar
 
Sentou-se ao meu lado
a escuridão e a ausência
a saudade e a impotência
a aceitação e a clarividência
o amor e a claridade
 
Hoje

Amanhã eu volto
Ou deixo-me lá

***

2022-05-18 
Hoje
nn-metamorohosis