Quando as tecnologias eram sonho por sonhar, e os criativos faziam jóias destas. A preto e branco, publicitava-se o peixe congelado - distribuído pelo país, por carrinhas de frio da empresa S.A.P.P. - desta maneira divertida. Uma preciosidade, que fez as delicias de graúdos e miúdos.
Foi num 10 de Junho, que desembarquei no porto de Luanda,
trocando o chão seguro do Infante D. Henrique, por um caminhar inseguro, um aperto no peito, um choro contido, a raiva de uma jovem que se sentia traída, desenraizada. Nem a visão do pai esperando-nos com um sorriso de encantamento, me sossegou. Iniciava-se, ali, uma aventura que não tinha pedido. O pai, como que adivinhando o que me ia na alma, abraçou-me e disse-me: É a primeira impressão, mas eu sei que daqui a uns dias, já descobriste tudo e vais gostar, e depois estamos todos juntos de novo, isso não é bom? E jovem pespineta lá ia dar razão? E que não, e que assim e que assado mas, havia os manos que também queriam a atenção do pai e a coisa ficou por ali. Ao contrário do dia de hoje, aquele 10 de Junho era de sol radiante, um montão de graus que, na altura, em não saberia quantificar mas, que era bom era, mas não disse isso a ninguém, está bom de ver. E lá fomos, levados à ilha, comer um gelado, antes de seguirmos para casa. E o tempo passou, os primeiros dias não foram fáceis mas, quando deixei a casmurrice, abri os olhos e o coração, apaixonei-me pela primeira vez na minha vida e, tenho a certeza, que poucas paixões vivem tantos anos, sobrevivendo à distância e ao tempo que passa. Um dia alguém me disse " espera só minina até beberes água do Bengo" - Eu bebi e entendi. É algo como, quem passa por Alcobaça, não passa sem lá voltar, ou - primeiro estranha-se e depois entranha-se.
Regressei num dia como o de hoje, branco, num Maio chuvoso e frio
Depois de assistir a este vídeo, quedei-me estupefacta, sem uma explicação moderninha, daquelas que evitam um tsunami, feito de gente escandalizada, a chamar-me retrógrada e outros piropos menos próprios, para os ouvidos de menina criada com limites e regras, valores e amor próprio. Alguém me explica o que se passa na cabeça destes miúdos?
Que geração é esta? Que tudo lhe cai do céu aos trambolhões. Que quase nada lhes é exigido. Que são adolescentes até aos 20 Que são jovens até aos 35 Que só exigem
Que adultos estamos a criar? Que companheiros, que amigos, que profissionais, que pais, vão ser?
Já me deixava muda, ouvi-los, com o vocabulário tabernoso que usam uns com os outros. Já me arrepiava vê-los, pouco mais que crianças, na noite, perdidos de bêbados. Já me entristecia ver, como indignificam os seus corpos. Só me faltava ver/saber, o quanto mais fazem, num atentado à própria vida, só para serem aceitos, para fazerem parte de um grupo.
A geração do tem tudo, não tem nada! Nem amor próprio.
Quando a música mostra que as (in)diferenças são nada perante ela, leva-me a pensar que: se se falasse cantando, acordasse cantando, discutisse cantando, guerreasse cantando, o mundo seria um lugar fabuloso para se viver.