04/01/2020
Não há bela sem senão
Agora que a mesa está livre de doces e mais doces, e conversas animadas e lembranças que ora fazem rir, ora trazem nostalgias, e até os foguetes já descansan em paz, está na hora de voltar ao rame rame da vidinha corrida, sofrida, entre transportes e trabalho exigente quase sempre mal pago, e o desalento do almoço de marmita feito com o jantar, confeccionado à pressa, do dia anterior.
Ainda não fui e já tenho saudade desta pacatez. Desta vossa vida feita devagar, onde se sai meia hora antes de entrar ao trabalho contando com o café no bar do bairro, o carro estacionado, ou saída da moleza do autocarro.
Isto, disse-me ontem a Graciete, depois de se ter despedido dos pais, meus vizinhos, me dar um abraço e partir para a cidade grande.
Eu já vivi numa cidade grande, bastante grande até, mas onde a vida era, também, feita com tempo e qualidade. Nem pensar nas correrias que a Graciete me conta, que se levanta às 5h30 para arranjar os miúdos que o marido há-de levar para a escola a caminho do trabalho, enquanto ela come meio pão ao mesmo tempo que enfia os sapatos, veste o casaco, pega na carteira, para apanhar um autocarro que a levará ao barco que a deixará num outro autocarro que a fará chegar ao metro.
Só de escrever já estou tonta.
Isso lá é vida?
Agora que a mesa, está livre dos doces e das conversas animadas, e até os foguetes já descansam em paz, preparo-me para voltar ao meu rame rame, tomar café no bar do bairro, deitar uns minutos de conversa fora e, saltitante, ir trabalhar, almoçar em casa, voltar ao trabalho e pelas 18h e picos, sem pressas, caminhar, aspirando o cair da tarde ou da noite, conforme a estação do ano.
Gosto, mesmo sendo de espírito fervilhante, de viver devagar, de ter tempo para a contemplação, para os cheiros, para pos afectos.
Terá menos glamour, menor agitação, mas eu gosto assim... como tá.
***
2020-01-04
nn(in)metamorphosis
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O percurso de uma cidadã do mundo.
ResponderEliminarBom dia, dona no.
Gosto do teu gostar! :) Estava farta de festas... Fartei-me de trabalhar nas casas onde foi o Natal e o Ano novo. Não saí no dia de ano novo, e ainda ficámos todos doentes, cá em casa. Mais valia passar o natal e o ano em casa sozinha.
ResponderEliminarBeijinhos. Bom fim de semana
Subscrevo... sendo eu, um dos que fez essa troca... por vezes tenho saudade da agitação, da pressão, dos prazos rigorosos de da qualidade. Depois... olho para os anos de vida que estou a recuperar, consigo sorrir e continuo...
ResponderEliminarBeijinhos, texto 5 estrelas... ela está de volta, YES
Retrato fiel da maioria das nossas vidas. Também eu, gostava de desacelerar e beber da calmaria dos dias, só não sei como fazê-lo.
ResponderEliminarNon, Aproveita bem essa conquista que eu aqui ando ainda a tentar descobrir a receita.
Beijinho
Depois de ler este teu Post bastante realista, não posso deixar de estar mais de acordo contigo, Noname:)
ResponderEliminarAs vantagens de morar ou trabalhar em pequenas cidades. É o que se chama qualidade de vida. :)
ResponderEliminarÉ muito stressante. Eu já vivi uma vida assim. Vivo nos arredores do Barreiro, e trabalhava em Alcabideche. Entrava às oito da manhã, saia às cinco de casa. Apanhava o autocarro para o Barreiro, o barco para Lisboa, ia a pé até ao Cais do Sodré, apanhava o comboio para Cascais e aí a camionete para Alcabideche.
ResponderEliminarViver numa vila ou cidade pequena com o emprego à porta é muito bom.
Abraço