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21/09/2025

À porta do Outono

 

Domingo, fim de tarde

O Verão despediu-se hoje com a sua luz dourada e preguiçosa. Senti-o claramente: o ar já não traz a vibração dos dias quentes, mas uma doçura calma, quase rendida. Passei a tarde a observar como as sombras se alongam mais cedo, como o céu parece querer descansar, e dei por mim a sorrir com essa melancolia leve que nunca sei bem se é saudade ou alívio.
 
Amanhã chega o Outono. 
Sinto-me pronta para o receber. Há qualquer coisa de reconfortante nesta mudança: o cheiro prometido da terra molhada, as folhas que hão-de cair em tons de cobre e ferrugem, o convite ao recolhimento e à serenidade. É como se a natureza me desse permissão para abrandar, para me voltar mais para dentro, para escutar o que em mim também pede silêncio e pausa.
 
Dou as boas-vindas ao Outono como quem recebe uma visita esperada. Não com euforia, mas com a ternura de quem reconhece no tempo que passa uma sabedoria maior. Que ele me traga serenidade, tardes longas de chá quente, e a lembrança de que cada fim é também um início disfarçado.

 

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 2025-09-21 - À PORTA DO OUTONO - Reflexoes
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19/09/2025

Essencial

 
A felicidade para mim
é ter o corpo leve
sem dores que pesem nos passos
 
É deitar a cabeça na almofada
sem fantasmas à porta
sem sombras na janela
 
É abrir os olhos de manhã
e sentir que o peito respira
sem pressa
sem medo
sem angústia
 
O resto
os sonhos os desejos
as conquistas
vêm depois


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2025-09-19 – ESSENCIAL 
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17/09/2025

Difíceis de lidar, mas com impacto

 
Estava sentada numa mesa de café, a meio da tarde, num espaço quase vazio. Fui convidada pela própria organizadora a participar numa reunião para juntar dinheiro e bens de primeira necessidade para uma família monoparental que após um divórcio, se reinventa e segue em frente..
 
Enquanto a organizadora esteve presente, o pequeno grupo, que me pareceu já se conhecer entre si, ao contrário de mim,  rodeava-a de sorrisos e elogios exagerados. Cada pedido ou ideia era imediatamente elogiado, gerando mais uma enxurrada de elogios vazios que soavam forçados e artificiais, destoando do objetivo da reunião.
 
Mas, quando a organizadora saiu e eu esperava para pagar o café, o ambiente mudou imediatamente. Surgiram comentários como: “É difícil de lidar”, “Raramente está de acordo”, “Dificilmente lhe ouves um elogio.” O contraste era evidente: enquanto estava presente, recebia elogios falsos; fora do seu alcance, era julgada e rotulada.
 
A experiência mostrou-me como a bajulação distorce a percepção das pessoas. Quem não se presta a esse jogo de elogios vazios acaba rapidamente rotulado de “difícil”, mesmo agindo com honestidade.
 
Só um aparte; Elas não sabem, mas, tal como a organizadora, eu sou das “difíceis de lidar”: elogios e bajulações ocas não fazem parte dos pratos que engulo, nem a custo.
 
Apesar de tudo, conseguimos reunir um bonito valor e alguns cabazes de compras não perecíveis, higiene e limpeza para alguns meses.
 
No fim, é isso que realmente importa: a ajuda que chega de forma concreta e útil. O resto é isso mesmo, resto.


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2025-09-17 - Difíceis de lidar, mas com impacto
nn-metamorphosis 


16/09/2025

Sou música, ainda que fragmento

 
Eu sou música e com cada nota danço a vida


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2025-09-16 - Sou música
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Sou música (mesmo em Japonês)

 

Dança da vida
sou ritmo em movimento
sou harmonia


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2025-09-16 - Sou música
nn-metamorphosis

Sou música

 



Sou música
sou som que se espalha no ar
e com ela danço a vida
a passo
com compasso
deixando-me levar

Cada nota é caminho
cada silêncio respiração
a dança é o destino
que nasce do coração


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2025-09-16 – Sou música
nn-metamorphosis


15/09/2025

Setembro em pessoa

 


Se setembro fosse gente
teria o bronzeado dos últimos dias de verão
cheiraria a livros novos e cadernos por estrear
traria nos bolsos a promessa de lareiras acesas
castanhas assadas cacau quente e silêncios bons

Falaria com voz de brisa entre folhas douradas
vestiria suéter leve e meias de lã
guardaria memórias do mar entre os dedos
e olharia o futuro com olhos de recomeço

Tocaria o coração com mãos de saudade
oferecendo tardes douradas e manhãs frescas
com um sorriso tímido de quem parte devagar
mas deixa o outono inteiro por desvendar
  

(Um poema para o meu aniversário)


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 2025-09-15 – SETEMBEO EM PESSOA 
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12/09/2025

Como um pé de vento

 


Demorou a adormecer
estava meio passional por dentro
não era tristeza nem saudade
apenas um tumulto
uma inquietude sem nome

Se tivesse o dom de se evaporar
iria como um pé de vento a dançar
seria brisa num campo qualquer
ou sombra numa rua escura a correr
escutando a noite sussurrar
os segredos que o mundo quer guardar

E enquanto o mundo dormia em silêncio
sentiu que tudo podia existir
como folhas levadas pelo vento
ou sonhos que aprendem a fugir
 

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 2025-09-00 –Como um pé de vento
nn-metamorphosis


11/09/2025

No circo da vida (7): Ainda na corda




Não morri
Estou quebrada sim
mas a quebra não me fez pó

Sou cacos que brilham
quando a luz insiste
sou rachadura
por onde a coragem entra

O mundo pensa em ruínas
eu penso em sobrevivência

Ainda caminho
mesmo que trémula
ainda ergo os olhos
mesmo que cansados

Porque a corda está ali
e enquanto houver fio
haverá passo

Não morri
Estou quebrada
mas ainda e sempre
na corda


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2025-MAI - No circo da vida:  Ainda na corda
nn-metamorphosis


Epílogo

 Cada palavra que escrevi é um passo
e cada passo, mesmo que trémulo
 prova de que ainda existe caminho e corda



10/09/2025

No circo da vida (6): A pausa entre passos




Não é o salto
não é o gesto
que garante equilíbrio

É a pausa
A respiração funda
o instante breve
em que nada acontece
mas tudo se recompõe

No silêncio entre dois passos
encontro a minha força
E descubro que às vezes
o que me sustenta
não é o andar
é o parar


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2025-MAR - No circo da vida:  A pausa entre passos
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09/09/2025

No circo da vida (5): A corda esticada do tempo




Entre o ontem que já partiu
e o amanhã que ainda é promessa
há este fio esticado
presente

Se olho para trás vacilo
Se me lanço à frente tropeço
Só o agora
aguenta o meu peso
só nele encontro chão
mesmo sem chão

E compreendo
o tempo é a corda

eu sou a travessia


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2025-FEV - No circo da vida: A corda esticada do tempo
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08/09/2025

No circo da vida (4): O vento do medo




O vento sopra alto
balança o fio
balança o peito

Penso em desistir
mas descubro que o medo
não é inimigo
é aviso
é lembrança de que vivo

E quando ergo o rosto
vejo que o vento
só existe
para me ensinar
a firmeza dos passos


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2025-FEV - No circo da vida: O vento do medo
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05/09/2025

No circo da vida (3): O aplauso do silêncio



No alto da corda
os olhos não buscam plateias
Aprendi que o som do mundo
é frágil passageiro

O que sustenta os meus pés
não são as palmas
mas a certeza de que avancei
mesmo quando o medo
me chamou pelo nome

Há um aplauso secreto
que só o silêncio conhece

o coração que pulsa firme
a respiração que agradece
por não ter desistido
de si


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2025-JAN - No circo da vida:  O aplauso do silêncio
nn-metamorphosis


04/09/2025

No circo da vida (2): A rede invisivel

2de 7



Caminho na altura dos sonhos
onde o vento é dúvida
e o fio destino

Debaixo de mim
não vejo nada
mas sinto a rede discreta
tecida pela confiança
que ainda guardo em mim
e nas poucas mãos
que nunca me deixaram cair

A rede invisível
não prende
não impede o voo
Apenas me recorda
que mesmo quando o mundo decepciona
há forças silenciosas
que amparam o salto


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2025-JAN - No circo da vida:  A rede invisível
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03/09/2025

No circo da vida (1): Sou a Equilibrista


Travessias da Equilibrista


 Prefácio

Sou alguém que procura equilíbrio
entre quedas e passos
e que descobriu nas palavras
uma forma de continuar a travessia
 
Travessias da Equilibrista é composta por 7 poemas
Não surgiram de uma vez
mas passo a passo, bem devagar
como quem caminha numa corda esticada
 
Catarse de alguém
que mesmo quebrada
segue em frente:
ainda e sempre
na corda


***




Equilibro-me
na ténue linha
entre escolhas e consequências

como quem dança
sobre o fio invisível
que separa o medo
da coragem

Cada passo é decisão
cada gesto semente
lançada ao tempo
flores ou espinhos
não sei

E a isto chamo viver
ser livre
mesmo sabendo
que a liberdade
pesa tanto quanto o risco
mas ilumina
sempre
o caminho


 ***

2025-JAN - No circo da vida: Sou a Equilibrista
nn-metamorphosis