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05/05/2017

Uma viagem ao fundo



 
 
Imagem  - DAQUI
 
Anda à tona de si, num quase não viver, num quase não sentir, num quase não ser.
Nada já a faz rir ao hilário, nada já a faz chorar ao desespero, nada já a faz sentir ao limite, nada já a faz acreditar.

Adormece acordada, acorda adormecida e sem viço, como se em tudo faltasse, um quase nada, um quase tudo, para que se complete cada cavidade oca que pulsa num quase cheio, num quase vazio.

Quando se perdeu?
Não se terá perdido.

Terá tomado consciência, que tudo sofre de relatividade.

Que a vida é:
- Um jogo de xadrez
onde o rei vive na ilusão que reina, onde o peão se esforça por vencer, mas no final, o cheque mate, nenhum deles decide.
- Uma peça de teatro
onde se mudam os actores, mas as cenas,  essas, repetem-se e repetem-se, e de tanto se repetirem, tornam os espectadores amorfos de olhar perdido no horizonte que é já ali, na cortina descolorida do palco.
- Uma partitura de autor desconhecido
que ora nos leva a dançar em notas suaves, quase perfeitas quase idílicas, ora nos atira para tempestuosas notas agudas e descompassadas.
- Uma pintura
em tons calmantes de azuis celeste, e amarelos tenebrosos que abafam o grito.

Espera, sem esperança nem fé, o novo, o puro, que traga o riso espontâneo pela alegria partilhada, o choro compulsivo pelo sofrimento alheio, o rubor na face pelo esforço do trabalho, as mãos suadas e pernas trementes pelo amor, o coração na boca pela verdade, as mãos estendidas voltadas para cima pelo acreditar.

Sabe, que pouco sabe, mas nesse pouco saber, sabe que quase tudo é  irrelevante, sabe que quase nada é o que parece, sabe que quase nada presta, e sabe que mesmo que tivesse mais tempo, não lhe chegaria para saber da beleza de todas as coisas.

Anseia, e receia, abeirar-se do desconhecido que ignora, mas sabendo que sempre verá o outro lado a partir do seu lado, aquieta-se, e segue adormecida à tona de si.

***** 
2017-05-05 
nn(in)metamorphosis


8 comentários:

  1. "Adormece acordada, acorda adormecida"...
    É daquelas tiradas que desejávamos ter despontado da nossa penada.
    Portentoso Noname, portentoso!

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    1. Que exagero Eros, que exagero, que dirá a quem realmente escreva bem?

      Boa tarde e obrigada

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  2. Agradeço a sua passagem, volte sempre que quiser.

    Quanto a segui-lo, para que me siga, lamento, não funciono por imposições, nem troca de favores . siga.me, se quiser, se achar que vale a pena - pela minha parte farei o mesmo.

    Bom fim de semana

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  3. Uau Non! Palavras bonitas e certeiras. Beijão :)

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  4. Profunda e tragicamente belo!

    :)

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    1. E não é a vida uma comédia trágica?

      Bom dia Gil, que gosto ver-te por aqui

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  5. "uma peça de teatro encenada por mim,
    num palco só meu, numa história sem fim.
    Faço o que digo, mas não digo o que penso
    e quebro por dentro, a cada momento!"

    Citação de "moi memme" que creio ilustrar bem a tua resposta :)

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    1. Tenho cada dia mais duvidas sobre se encenamos seja o que for. Se não somos apenas marionetas presas por fios nos dedos de ???? - e pelo "nosso" palco passam tantos actores e actizes, comediantes, palhaços pobres e ricos e muitos mais participantes inócuos, em cada olhar distraído, encontro a mesma insatisfação, a mesma procura - como certo tenho apenas o fim da história no meu próprio fim e o quebrar por dentro a cada momento.

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