Desafio: Escreve um final
Dou-te quase tudo" - Que nunca nos falte o amor
segunda-feira, fevereiro 21, 2022
Todos
os dias, pela manhã, aos primeiros raios de luz, salta da cama, deixando a
dormir o próprio despertador e Margarida, ela, bem enrolada ao édredon, bela
como a vida, cabelos desgrenhados e a expressão tranquila de quem sonha com um
mundo pleno de cor.
Dezembro
parece querer publicitar a chegada de mais um Inverno, húmido, cinzento e frio,
com chuviscos e dias escuros.
Numa
rotina, quase perfeita, coloca o pão a descongelar no micro-ondas, espreme
laranjas, prepara uma manga, deixa na mesa o queijo, a manteiga e o fiambre de
frango, enquanto toma o seu primeiro café, não sem antes ligar o aquecimento da
casa de banho. Estende a roupa deixada na máquina na noite anterior, abre as
portadas da sala e deita um olhar de relance à lareira, ao sentir uma agradável
sensação de conforto térmico, ainda fruto do crepitar passado.
Leva
o cão à rua, sente o ar gélido, faz uma careta e solta-o no jardim, em frente
ao condomínio, enquanto aperta o cachecol e dá ordem para que se despache.
Acende o primeiro cigarro, absorvendo de seguida alguns segundos de um prazer
que pretende deixar, quem sabe um dia.
Regressa a casa, troca beijos apaixonados com
Margarida, acabada de acordar, ainda com aquela deliciosa e mimosa expressão de
quem não deixou na totalidade o Mundo dos sonhos.
- O teu despertador acordou-me.
-
Cumpriu a função dele, portanto… assim o teu fizesse o mesmo – Sorri, senta-se
à mesa, enquanto começa pelo sumo e desbloqueia o telemóvel para ler as
primeiras notícias do dia.
Pequeno-almoço
terminado, levanta-se e dirige-se para a sala de banho, recebendo um beijo e um
apressado “amo-te”, que o desperta para o facto de já estar atrasado.
Entre
o trânsito, os transportes, as esperas, reuniões, e-mails, telefonemas,
questões avulsas colocadas por colegas deslocados da realidade, consegue
finalmente começar a trabalhar a partir das cinco da tarde, momento em que a
noção de ter de levar trabalho para casa torna-se uma certeza.
Meia
dúzia de mensagens trocadas com Margarida, alimentam-lhe o espírito e a
sanidade. Fica a saber que o jantar está bem encaminhado, o almoço para o dia
seguinte pronto, a casa limpa e que a senhora da roupa já por lá tinha passado.
Entra
em casa, sente a agradável sensação do calor proveniente da lareira, beija
Margarida, com quem troca sorrisos cansados e cúmplices. Storm, recebe-o com um
brinquedo na boca e com a energia que um Golden Retriever de doze anos ainda
consegue ter. Faz-lhe uma festa à distância possível, na tentativa infrutífera
de não ficar com pelos no fato.
Jantam
rapidamente, enquanto trocam as novidades do dia, as queixas, os suspiros, as
palavras de amor. Margarida abre a pasta com testes para corrigir, ele o
portátil da empresa para dar continuidade a um longo dia, não sem se perguntar,
“a partir de quando ficou tudo tão complicado?”.
Ela
na mesa da sala, com todos os papeis cuidadosamente numerados e em posições
marcadas tipo planta de arquiteto, ele no sofá, lateral à lareira, com o
computador na mesinha de apoio, trocam olhares ternos e Jorge consegue
visualizar aquele momento, perdido no espaço e no tempo, do primeiro beijo,
bastante posterior ao do primeiro olhar, ao das primeiras trocas de palavras,
mas ainda anterior ao primeiro “amo-te” e à confirmação da certeza de querer
passar o resto dos seus dias a seu lado.
****
O
meu final
Sem
se dar conta, esquece o computador e deixa que a mente o leve ao presente que
muitos gostariam de alcançar. Ele era um homem feliz. Então, porquê aquela sensação
de falta de algo que por vezes o assalta? Aquela inquietude que, sem aviso, chega e faz o silêncio deixar de respirar?
***
2022-02-22
nn-metamorphosis
É isso mesmo. Penso que passamos pela vida tão ocupados ou preocupados que nem sempre estamos conscientes dos bons momentos que estão a ser vividos no presente.
ResponderEliminarObrigado e um beijinho para ti
Gostei do seu final apesar da insatisfação do personagem. A rotina parece ter-se instalado no casamento e com ela não há felicidade que resista. Daí a insatisfação do personagem.
ResponderEliminarAbraço e saúde
Toda inquietude deve ter uma razão de ser.
ResponderEliminarGostei do fundo inusitado que deu ao conto.
Os três que li tiveram finais excepcionais.
O seu é fato para muitos e muitos seres humanos.
Deixam de saborear o que tem na sua incompletude, na sua insatisfação costumaz.
Tenha dias abençoados, querida Noname!
Beijinhos
Triste quando essa sensação acomete o ser... Mas acontece! Lindo final! beijos, chica
ResponderEliminarGostei também deste final...se bem que me reveja no comentário que o João aqui deixou...
ResponderEliminarBJS