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12/09/2022

Chove chuva miudinha

 




Na terra

e na minha alma
dia cinzento de assombrosos ventos

 Chove chuva miudinha

 Caricia

que mata a sede à terra
e acalma os nós dos meus pensamentos


***

2022-09-12
Chove chuva miudinha
nn-metamorphosis



09/07/2022

Para português ler

 

 

D. Mafalda escreveu. Eu li, e gostei. E trouxe para não perder, e para quem quiser, português ou não, ler.



A língua portuguesa é deliciosa! Alguns consideram-na traiçoeira!
 Deliciem-se!

Antes de ir desta para melhor, vou dar com a língua nos dentes e lavar roupa suja. Com a faca e o queijo na mão, com uma perna às costas e de olhos fechados, vou sacudir a água do capote. Ainda tirei o cavalinho da chuva, tentei riscar este assunto do mapa, mas eu sou uma troca-tintas, uma vira casacas e vou voltar à vaca fria. Andava eu a brincar aqui com os meus botões, a chorar sobre o leite derramado, com bicho carpinteiro e macaquinhos na cabeça, quando decidi procurar uma agulha no palheiro. Eu sei, eu não bato bem da bola, mas sentia-me pior que uma lesma e tinha uma pedra no sapato. O problema é que andava a bater com a cabeça nas paredes há algum tempo, com um aperto no coração e uma enorme vontade de arrancar cabelos. Passei muitos dias com cara de caso e com a cabeça nas nuvens como uma barata tonta. Mas eu, que sou armada até aos dentes, arregacei as mangas e procurei o arquivo a eito. Acontece que uma vez em conversa com um amigo ele disse-me «Tiras-me do sério» e eu, sem papas na língua, respondi «Se te tiro do sério, deixo-te a rir, é isso?». Ele, de trombas e com os azeites, gritou em plenos pulmões «Esquece Mafalda, escreves belissimamente mas não conheces nem 1/4 das expressões portuguesas.» Só faltou trepar paredes. É preciso ter lata! O primeiro milho é dos pardais. Primeiro pensei ter posto a pata na poça, depois achei que ele tinha acordado com os pés de fora e que estava a fazer uma tempestade num copo d´água e trinta por uma linha. Fiz vista grossa, mas depressa disse Ó tio! Ó tio! Abri-lhe o coração, o jogo e os olhos na esperança de acertar agulhas e pôr os pontos nos is. Não lhe ia prometer mundos e fundos nem pregar uma peta, eu estava mesmo a brincar. Era um trocadilho. Pão, pão, queijo, queijo. Rebeubéu, pardais ao ninho, fiquei com os pés para a cova, só me apeteceu pendurar as botas e mandá-lo pentear macacos, dar uma volta ao bilhar grande ou chatear o Camões. Que balde de água fria! Caraças, levei a peito, aquela resposta era tão sem pés nem cabeça que fui aos arames. Eu sei que dou muitas calinadas, meto os pés pelas mãos e faço tudo à balda. Posso até ser uma cabeça de alho chocho e andar sempre com a cabeça nas nuvens mas não ia meter o rabo entre as pernas nem que a vaca tossisse. Pus a cabeça em água e fiquei a pensar na morte da bezerra. Caí das nuvens e com paninhos quentes passei a conversa a pente fino, não fosse bater as botas. Percebi que ele tinha trocado alhos por bugalhos, apeteceu-me cortar-lhe as vazas, mas estava de mãos atadas e baixei a bola. Engoli o sapo, agarrei com unhas e dentes, dei o braço a torcer e dei-lhe troco com o intuito de descalçar a bota. Não gosto muito do vira o disco e toca o mesmo, mas isto já são muitos anos a virar frangos e pus as barbas de molho. Uma mão lava à outra e as duas lavam as orelhas, mas ele está-se nas tintas, à sombra da bananeira. Não deu uma mãozinha nem deixou-se comprar gato por lebre. Ficou com a pulga atrás da orelha, pôs-se a pau antes de estar feito ao bife. Pus mãos à obra, tentei fazer um negócio da China e bati na mesma tecla. Dados lançados, cartas na mesa, coisas do arco da velha. Claro que dei com o nariz na porta, o gato comeu-lhe e língua e saiu com pés de lã. Água pela barba! Devia aproveitar a boleia antes de ficar para tia de pedra e cal onde Judas perdeu as botas. É que isto pode estar giro e estar fixe, mas não me apetece segurar a vela com dor de corno e dor de cotovelo só porque não conheço 1/4 das expressões portuguesas.

Mafalda Saraiva



23/05/2022

Acorda

 
 


A manhã surgiu fosca
como se um véu tapasse o sol
que queria quente
 
 Queria a luz que a aquecia
 e a energia  que transparecia dos raios empoeirados
que os sonhos lhe deixaram
 
 Aquele era o tempo dos mundos parados…
 
E também ela parada
só a custo entendia que estava viva
na fronteira do vazio da alma
 
 Rolou o cigarro e expirou o fumo
como se quisesse deitar fora 
toda a mágoa que lhe apertava o peito
 
Queria voltar a adormecer...


 

***

2022-05-23
Acorda
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Sem eira nem beira

 

 «Sem eira nem beira»

é um dito popular antigo que encerra um pensamento moral. Deste adágio ressalta a eira, localizada nas proximidades dos lugares do mundo rural, que era e ainda é um local ao ar livre, de terra batida ou lajeada. Aqui se estendiam para secar os cereais (trigo, milho, centeio, etc.) e legumes, a fim de serem malhados, debulhados e limpos no mês de Agosto, ou seja, no «tempo da eira». A eirada correspondia a uma porção de cereais que se debulhavam por uma só vez na eira, para depois serem aproveitados para o consumo. Era sinal de alguma prosperidade. Quem era pobre não tinha eira, nem um pedaço dela, nem mesmo sua beira. Daqui resultou a rima popular, em jeito de menosprezo: miserável é aquele que vive «sem eira nem beira», ou «sem eira nem beira, nem pé (ramo) de figueira». Ou, ainda, em tom satírico e jocoso para com um vizinho: «"Valha-te a eira má", que não tenhas pão na eira, e que morras de fome»!

 

O adágio também podia ter outra explicação popular, referente aos beirais dos telhados das antigas habitações e afins. Dizia-se que as famílias com menos posses tinham uma telha (eira), os remediados tinham duas (beira) camadas de telhas. E os mais abastados tinham na cobertura das casas três camadas de telha, eira, beira e tribeira, respectivamente, de cima para baixo. Daí o dito popular «se o sujeito não tem eira, nem beira, quer dizer que ele não tem recursos, é pobre».

 

Esta tipologia dos beirados foi levada pelos portugueses, no século XIX, senão antes, para o Brasil.

 

Em Portugal e no Brasil, ainda podemos observar algumas casas, [ver, por exemplo, as imagens de um edifício setecentista, sito na Sobreda (concelho de Almada); da colecção de Alexandre Flores], que conservam os dois beirados, próximos dos telhados. Outras, na maioria, só com um beirado. As que tinham os dois significavam que a família que residia naquela casa tinha eira (poder) e beira (posses). Nas casas só com um beirado então só tinham eira e não tinha beira. E nas casas que não tivessem nada não tinham «nem eira nem beira».

 

'Fonte

Estudo e recolha do historiador e bibliotecário-arquivista Alexandre M. Flores, publicado em 10/01/2020 na sua própria página de Facebook. Manteve-se a norma ortográfica do original, a qual é anterior ao Acordo Ortográfico de 1990.'

 ***


20/05/2022

Um jogo de cabra cega

   


A vida passa
E ensina-nos a diferença
 
da noite e do dia
da fraqueza e da força
do amargo e do doce
da mágoa e da alegria
 
da renúncia e da persistência
 
para querer e fazer seu
com desembaraço e desapego
o gostar e o amar
num amor que sendo cego
 
vê pr’ além da existência

 

 

***

2022-05-20 
Um jogo de cabra cega
nn-metamorphosis


18/05/2022

Hoje





Hoje

saí
não estou cá
 
Fui lá, sem me ausentar
 
Sentei-me no areal deserto
onde as palavras não apetecem
e o silêncio ecoa
onde cerrados os olhos
a luz se apaga e o escuro se impõe
 
Hoje

saí
não estou cá
 
Fui lá, sem me ausentar
 
Sentou-se ao meu lado
a escuridão e a ausência
a saudade e a impotência
a aceitação e a clarividência
o amor e a claridade
 
Hoje

Amanhã eu volto
Ou deixo-me lá

***

2022-05-18 
Hoje
nn-metamorohosis



29/04/2022

Dia Mundial da Dança

 

29ABR



Na poesia da dança

 

Dançar pode ser tão sagrado quanto orar, disse alguém com profunda sabedoria.
Tudo reside na intenção que nos move, no propósito que habita nosso coração.

Quando dançamos não movimentamos apenas o corpo, exercitando os músculos, expressamos também e, principalmente, a sensibilidade que nos vai na alma.
Dançando tornamos a vida mais leve e colorida, enchendo de graça e beleza a nossa jornada neste mundo.
Por alguns momentos esquecemos as dores, reencontrando a magia esquecida e perdida do viver.

A natureza é um permanente espectáculo de dança.
Dançam as borboletas em torno das flores.
A Terra e os demais planetas dançam em torno do sol.
As árvores dançam com o vento.
Os passarinhos dançam no ar e os peixes bailam sem cessar.
Dançam os rios cruzando os vales e dança a chuva molhando a terra.
Dançam as ideias na inspiração do escritor
Dançam as imagens na mente do pintor.
Dançam as formas na criação do escultor.
Dançam as notas na voz do cantor.
Dançam as células em nosso corpo.
Dançam os órgãos no compasso gerado nas batidas do coração.
Dançam as sinapses sob a batuta desse formidável maestro que é o cérebro.

Não dance apenas para os outros, dance com os outros e consigo mesmo, harmonizando corpo e alma em cada movimento que fizer.
Dançando, as tristezas, dores, tensões e ansiedades vão ficando para trás e, no compasso de cada ritmo, vamos ao encontro de alegrias que sempre se renovam.
Dance quando estiver feliz e realizado.
Dance pelo prazer de dançar, em todas as estações e a cada estação que seu corpo passar.

E o que o seu dançar seja uma oferenda de amor ao criador que incessantemente promove o espectáculo da vida: desafiador,
misterioso,
delicado,
impactante e sagrado.
Não apenas assista, viva e sinta esse espectáculo que nunca sai de cartaz.
Dance hoje!
Dance sempre!

 

Cezar Braga Said


30/03/2022

Àrvore da Vida

 


Árvore da vida

 

O símbolo da árvore da vida já se tornou uma figura comum nas jóias usadas pelas mulheres. O que parecia ser uma moda passageira surpreendeu todos ao estabelecer -se no gosto das pessoas. 

Está totalmente enganado quem pensa que isso se deve apenas à beleza da peça (que, convenhamos, não é pouca). Esse símbolo tem uma filosofia muito significativa por trás. 

Qual a origem do símbolo da árvore da vida?

A origem exacta da simbologia da árvore da vida é, ainda hoje, desconhecida. Isso acontece porque ela é muito antiga e arrasta-se ao longo de muitas gerações. Portanto, a falta de registos escritos torna a investigação complicada.

 Porém, há algumas teorias sobre o seu surgimento. Os cristãos, por exemplo, acreditam que surgiu com o Jardim do Éden, pois era ela a árvore central daquele local, segundo a bíblia.

 O facto é que a árvore da vida está presente em muitas religiões, como o cristianismo e o budismo, na mitologia nórdica, na cultura de povos antigos, como os celtas, e até na ficção, como na série de livros “O senhor dos anéis”. Portanto, percebe-se quão plural é a importância desse símbolo para a história e para a espiritualidade.

Qual o significado da árvore da vida?

Na verdade, trata-se de um símbolo sagrado que tem como significado a criação, fecundidade e imortalidade, ou seja, que remete muito com a figura das árvores, que espalham as suas sementes para gerar novas vidas vegetais e, a partir disso, se tornam imortais.

 Para os celtas, ela significa harmonia, protecção e equilíbrio, já para o budismo, sabedoria e iluminação. Na mitologia nórdica, a árvore da vida era chama de Yggdrasil e sua função era conectar o mundo dos deuses, dos humanos e o submundo, portanto, ela representava a harmonia entre esses três lugares.

 A árvore é um elemento da natureza que gera muitas reflexões e filosofias e isso não é à toa, pois as suas raízes conectam –na com a terra, enquanto seu tronco a torna forte e poderosa e os seus ramos crescem  sempre em direcção ao céu. Tudo isso se apresenta de maneira graciosa e elegante.

 Já reparou que na grande maioria o significado da árvore da vida é positivo e próspero?

 Geralmente, as pessoas agarram –se aos amuletos pessoais para enfrentarem as dificuldades do dia a dia e trilham um caminho de sucesso e felicidade.

 

Ainda assim, para mim, esta,  é a verdadeira árvore da vida

 


 

 

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2022-03-30 

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