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29/06/2012

Já fui...



Já fui pássaro
sem bico ou penas
mas de voar sublime

Já fui palhaça
sem sapatos ou chapéu
mas de sorriso autêntico

Já fui amante
sem sexo ou prazer
mas de emoção profunda

Já fui vagabunda
sem esmolas ou serapilheira
mas perdida na mesma

Já fui mulher soldado
sem botas ou arma
mas com a honra no olhar

Já fui madre
sem crucifixo ou hóstia
mas banhada em fé

Já fui cavaleira 
sem cavalo ou armadura
mas carregada de princípios

Já fui mágica
sem pombas ou lenços
mas com o segredo guardado

Já fui prostituta
sem preçário ou nudez
mas com prazer para dar

Já fui caçadora
sem arma ou cartuchos
mas respeito pela caça

Já fui sonhadora
sem devaneios ou ilusões
mas sôfrega de felicidade

Já fui vítima
sem ódio ou rancor
mas com a dor do inocente

Já fui música
sem pauta ou instrumento
mas com melodia no olhar

Já fui tudo!
Agora sou apenas um sorriso de lágrimas molhado,
que esconde a força das palavras num silêncio que é só meu.

     *****
      2012-06-29 
(Tiago Galvão Teles)
nn(in)metamorphosis


27/06/2012

Apeada


Olho-me de dentro para fora
E vejo com alegria
O quanto me dei
Mesmo fora da romaria
O ombro que dei,
foi doce
As palavras que proferi,
nem sempre meigas, mas verdadeiras
O olhar foi cristalino
O abraço apertado, dado
em bicos dos pés
O sorriso leal,
aberto, em dentes, duas fileiras
O amor sentido
mesmo que de sentido único
A mão estendida, aberta para cima
de orgulho e de alarde despida
O que plantei, no meu jardim
brotou
floriu
E foi seguindo caminho
Comigo, mas sem me levar a mim

Olho-me de fora para dentro
Afastei-me
mesmo estando parada
Com caminho feito
e passos cansados
Regresso a mim

*****
        2012.06.27
nn(in)metamorphosis

17/06/2012

Cantigas ao desafio VIII



Tu-Parte II

Ontem não te vi o sorriso atrevido
não te li o desejo nos olhos
e o tempo atropelou-me
Vens sempre com os ponteiros contados
Desejas ficar mas partes apressada
Deixando parte por dizer
e quase tudo por sentir
Anseio pelo dia em que venhas e não tenhas de te ir
Me pouses a cabeça no teu colo
Enquanto me embalas docemente
E nesse momento o tempo seja nada
E se, de repente, o meu olhar parar
E se parado parecer estar
É porque não estou aí
É sinal de que parti
Para onde tudo se encaixa
Onde tudo é como devia ser
E onde tudo o que nos interessa devia estar
E, se de repente, voltar a olhar
É porque regressei
E o momento se perdeu entre nós
E mais uma vez tu partiste sem mim

                   2012.06.17 (VC)
(Cópia integral, devidamente autorizada)

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Diálogo insano

… Olá!
… cheguei, e vim sem pressa
… Sempre queres ir?
- E podemos?
… Sem dúvida, basta querermos!
- E podemos querer?
… Está na nossa vontade.
- E ela é nossa? Podemos agarra-la?
… Agarra-la? Isso é impossível!
- Então qual é o caminho?
… Caminho? Quem falou em caminho!?
- Então como fazemos?
… Fácil. Usamos a imaginação!
- A imaginação?
… Sim, a imaginação.
- Que imaginação?
- Aquela estrada imensa onde o traçado és tu!

         2012.06.17
nn(in) metamorphosis


08/06/2012

Sou pormenor carregado de emoção





Cada vez mais se esgrime em torno de teorias fundamentadas na razão. Seja ela verdadeira ou inventada, ou tão só para fazer valer os intentos desejados. Esquecem-se os valores da intuição pura, expulsa-se a cristalina emoção. Aniquila-se imperturbavelmente o pormenor. Vamos ficando mais pobres, menos humanos e profundamente vazios. Vamos caminhando lentamente, para um ferro-velho ausente dos pequenos e relevantes nadas.

Os pormenores sempre me fascinaram.
Tudo na minha vida é feito de pormenores. Procuro-os por todo o lado. Enquadro-os com sentido no todo. Cada um pode mudar um momento, criar uma nova situação, fazer nascer um sentir. Podem moldar uma expressão, gerir um comportamento, modificar uma vida.

Sempre defendi a emoção em prejuízo da razão.
Toda a emoção é fundamentada na delicada fragrância do pormenor, este imergido no inconsciente permite – nos intuir. A emoção é o sangue que nos corre nas veias, o pulsar de cada sensação, a magia daquilo que realmente somos. É a emoção que nos torna únicos e nos ajuda a perceber as diferenças.

Quanto à razão sempre tive dificuldade em respeitá-la.
Acredito-a sem personalidade, desprovida de carácter. Não há toque, não há cheiro, é pacóvia e pouco imaginativa. A razão não tem pormenores, é compacta e estanque. Dura e contínua, começa onde acaba. Não a sinto humana, pois a sua lógica retira-lhe toda a espontaneidade. Com a razão nascemos e morremos iguais. Esse não é o caminho, a metamorfose faz parte do percurso. É o percurso. Com a razão não somos, parecemos ser. E é aqui que voltamos ao pormenor, personagem subtil, que alimenta a intuição e nos leva às entranhas da emoção. É o sentir na sua mais livre forma, sem receios de qualquer ordem.
Recuso-me a ser 1byte ou parte de um código binário 
Sou pormenor carregado de emoção

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       2012.05.08
nn(in)metamorphosis